RECADO ATERRADOR SOBRE A TUA LIBERDADE

“ ... Digamos que tudo aquilo que sabes não seja apenas errado, mas uma mentira cuidadosamente engendrada. Digamos que tua mente esteja entupida de falsidades: sobre ti mesmo, sobre a história, sobre o mundo a tua volta, plantadas nela por forças poderosas visando a conquistar, pacificamente, tua complacência. A liberdade, nessas circunstâncias, não passa de uma ilusão, pois és, na verdade, apenas um peão num grande enredo e o teu papel o de um crédulo indiferente. Isso, se tiveres sorte. Se, em qualquer tempo, convier aos interesses de terceiros o teu papel vai mudar: tua vida será destruída, serás levado à fome e à miséria. Pode ser, até, que tenhas de morrer. Quanto a isso, nada poderá ser feito. Ah! Se acontecer de conseguires descobrir um fiapo da verdade até poderás tentar alertar as pessoas; demolir, pela exposição, as bases dos que tramam nos bastidores. Mas, mesmo nesse caso, também não terás muito mais a fazer. Eles são poderosos demais, invulneráveis demais, invisíveis demais, espertos demais. Da mesma forma que aconteceu com outros, antes de ti, também vais perder!" Charles P. Freund, Editorialista do “The Washington Post”. T.A.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Quem disse que não há alternativa?


Ponta Delgada, 17 de Setembro de 2012
Quem disse que não há alternativa?
Alguns “Opinion Makers” fazem da “inevitabilidade” uma espécie de bloqueador psicológico que impede o debate sobre possíveis soluções para debelar a Crise Financeira, fora do cânone estabelecido. Evitando falar dos responsáveis e das causas que a provocaram, apresentam-na invariavelmente como um fenómeno cíclico, natural no contexto do sistema da Economia de Mercado. E não é bem assim. Trata-se na verdade de um PROCESSO para alcançar objetivos antecipadamente planeados, quer no plano Económico, quer no Político.
A Politica de Austeridade que vem sendo adotada, sob o pretexto de termos de honrar “custe o que custar” o “Memorando da Troika”, tem marca registada. Trata-se da receita de Milton Friedman, pai do Neoliberalismo. Para este Economista que fez escola em Chicago, a “liberdade” dos mercados (leia-se, desregulação) está acima de tudo é a pedra de toque do Crescimento Económico, que não significa necessariamente Desenvolvimento Social. Há países com uma alta taxa de crescimento e, no entanto, o povo continua a viver na miséria… Veja-se, por exemplo, os casos da China, da India e de Angola.
Para os boys de Chicago, que em nossa praça “são mais que as moscas”, os Governos devem desmontar o Estado Social, para criar oportunidades de negócio ao Capital Privado, e desaparecer… É o tal Estado mínimo… Todavia, sempre que haja uma crise sistémica, como agora aconteceu, deve socorrer incondicionalmente os mercados… nem que a vaca tussa...
Paul Krugman, Economista norte-americano laureado com o Nobel da Economia de 2008, na sua mais recente obra, “Acabem com esta Crise, já!”, aponta o caminho oposto ao que os nossos Governantes têm seguido. Defende uma espécie de New Deal para acabar com a Recessão Económica, sublinhando que os atuais Decisores Políticos muito ganhariam se aprendessem com as lições do Passado, nomeadamente no que se refere ao Crash de Wall Street, em 1929.
Uma das causas que está na origem da Crise Financeira iniciada em 2008, foi sem dúvida permitir-se que os “Mercados Financeiros” voltassem a funcionar à rédea solta… tal como aconteceu até às vésperas da Grande Depressão de 1929, nos USA. A supervisão dos Bancos Centrais e as Agências de Regulação foram ineficazes face à especulação criativa dos Bancos de Investimento, em que se destacou, por exemplo, um Goldman Sachs, e os Governos, por sua vez, confiados na autorregulação da “mãozinha invisível” de Adam Smith, descansaram na espreguiçadeira do Neoliberalismo… E foi o que deu… E ninguém nos tira da cabeça o carácter proposital da crise…     
Duas medidas fundamentais Paul Krugman defende para acabar com a Crise: emissão de moeda e investimento público. Afinal as mesmas que o Presidente Franklin Delano Roosevelt adotou, na sequência da Grande Depressão, visando o reaquecimento da Economia Real e a redução do desemprego, que se havia tornado numa chaga social. Curiosa a noticia recentemente divulgada de que o FED vai rodar a rotativa para lançar no mercado mais umas boas pazadas de dólares… O BCE continua a este respeito com hesitações… Veja-se os casos da Espanha e da Itália. Primeiro têm que formalizar um Pedido de Resgate e só depois recebem o dinheirinho… Ou seja, não haverá pão de milho para ninguém sem sujeição política… E viva o Euro!
A raiz dos nossos problemas reside de facto na insuficiência de oferta monetária, criada desde a adesão ao Euro. Estando o Estado Português inibido de emitir moeda própria, só pode financiar-se, através de empréstimos sob a forma de Títulos de Dívida Pública, ou, como agora, através de um Resgate Financeiro sob o patrocínio da Troika, o que implica sujeição política e económica, com os desdobramentos sociais gravosos que estamos a viver.
Devido sobretudo à perda de Capital Fixo e à Corrupção instalada, a Economia Portuguesa não consegue produzir suficientes recursos, nem os produzirá enquanto se prosseguir numa Austeridade que promove Recessão. O País, a continuar neste empobrecimento deliberado, vai carecer cada vez mais de financiamento externo, inclusive para pagar juros vencidos, como já acontece.
Por outro lado, a continuada falta de dinheiro no bolso do cidadão reduz o consumo. A falta de procura expectável leva os operadores económicos a reduzir a produção. As empresas são então obrigadas a reduzir ou mesmo encerrar a sua atividade com o consequente despedimento de pessoal. O desemprego por sua vez aumenta a despesa pública na componente social e gera simultaneamente uma perda de receitas sobre os rendimentos do Trabalho e do Capital. Até o IVA é afetado… Em consequência, as perdas financeiras e sociais entrelaçam-se e interagem numa espiral recessiva crescente… Para inverter este processo destrutivo, torna-se indispensável uma rutura com o Sistema que as produziu…
Parece-nos pois que está na hora de se rever a questão da Moeda, sem complexos e sem medos, e dar um basta no Agiotismo dos “Mercados Financeiros”, capitaneados pela Troika. Portugal precisa de readquirir a sua Autonomia Financeira, sem a qual não haverá Crescimento Económico e sem este, não é possível honrar a Dívida Soberana. Venha um Governo que tenha a coragem de o fazer. O Povo na rua, no passado dia 15 de Setembro, deu o sinal… De que estão à espera?

Artur Rosa Teixeira
(artur.teixeira1946@gmail.pt)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012