RECADO ATERRADOR SOBRE A TUA LIBERDADE

“ ... Digamos que tudo aquilo que sabes não seja apenas errado, mas uma mentira cuidadosamente engendrada. Digamos que tua mente esteja entupida de falsidades: sobre ti mesmo, sobre a história, sobre o mundo a tua volta, plantadas nela por forças poderosas visando a conquistar, pacificamente, tua complacência. A liberdade, nessas circunstâncias, não passa de uma ilusão, pois és, na verdade, apenas um peão num grande enredo e o teu papel o de um crédulo indiferente. Isso, se tiveres sorte. Se, em qualquer tempo, convier aos interesses de terceiros o teu papel vai mudar: tua vida será destruída, serás levado à fome e à miséria. Pode ser, até, que tenhas de morrer. Quanto a isso, nada poderá ser feito. Ah! Se acontecer de conseguires descobrir um fiapo da verdade até poderás tentar alertar as pessoas; demolir, pela exposição, as bases dos que tramam nos bastidores. Mas, mesmo nesse caso, também não terás muito mais a fazer. Eles são poderosos demais, invulneráveis demais, invisíveis demais, espertos demais. Da mesma forma que aconteceu com outros, antes de ti, também vais perder!" Charles P. Freund, Editorialista do “The Washington Post”. T.A.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Carta Póstuma a Armindo Augusto de Abreu


Ponta Delgada, 05 de Novembro de 2012
Meu bom e querido amigo Armindo,
Eterna saudade.
Na imensa abóboda celeste, junto do Cruzeiro do Sul, brilha intensamente mais uma estrela desde 13 de Outubro de 2012. Na eternidade, a luz que sempre foste, continuará a iluminar a mente e o coração de todos que na terra amaste e que te amam.
O nosso encontro deu-se graças à Web e não foi um acaso… Pesquizava sobre a Globalização e detive-me num teu artigo, “O Sombra”, no qual denuncias as origens obscuras de um Poder que vem há muito estabelecendo uma Nova Ordem Internacional contra a soberania dos povos e Nações. O texto, que li de um só fôlego, apesar de extenso, deu-me a chave para compreender a raiz dos nossos problemas económicos e a partir dele, quis conhecer-te. Mandei-te de imediato uma mensagem manifestando o meu apreço e o desejo de manter correspondência contigo, ao que respondeste positivamente. Lembraste? Isso ocorreu por volta de 1999. Nasceu assim a nossa amizade que se foi cimentando ao longo do tempo com imenso proveito espiritual e intelectual sobretudo para mim. Todavia sinto que, do muito que me deste, de que te estou eternamente agradecido, haveria muito mais para me dares… Daí, perdoa-me o egoísmo, sinto uma certa revolta por nos teres deixado… Tinhas tanto do teu saber para nos dar…
Em Outubro de 2000, viajei ao nosso querido Rio, em visita aos meus primos de Vila Isabel. Foi então a oportunidade sublime de te conhecer pessoalmente. Na véspera liguei-te e tu marcaste o encontro junto a um restaurante no Leme, cujo nome não retive. Não tinha qualquer ideia da tua aparência. Fiquei por ali à espera, procurando adivinhar em cada transeunte a tua pessoa. De repente, oiço atrás de mim alguém chamar-me pelo nome próprio, familiarmente. Virei-me e vejo-te. De porte alto e forte, em traje desportivo, te apresentaste com um sorriso afável de quem estende incondicionalmente a mão da amizade. E assim foi, na verdade. Conduziste-me ao restaurante e numa mesa apresentaste-me a outros dois teus amigos que aguardavam. Explicaste que não gostavas de almoçar sozinho e quando se apresentava mais do que um conviva, arranjavas um terceiro para não ficar a mesa com um número ímpar de comensais. Achei piada. O almoço foi de luxo e foi, não tanto pela gastronomia, muita rica, mas pelos convivas e pelas ideias trocadas. Ali se formou logo uma empatia de confrades preocupados com o futuro do Mundo. Conversámos tanto que nos esquecemos do tempo… Quase que pegava com o jantar. O gerente veio ter connosco e nos disse delicadamente que apesar de estar na hora de encerrar o serviço, podíamos continuar a nossa edificante cavaqueira sem problemas. A nossa confraria despertou-lhe atenção… Em resposta, convidaste-o a participar, pois estávamos a tentar resolver os momentosos problemas da Humanidade… Saímos e já na rua comentaste o modo inteligente e gentil que o sujeito arranjou para se livrar de nós. Aquele nosso primeiro encontro revelou logo ali o ser humano de excelência que és.
Em Janeiro de 2005 vieste a Portugal com o teu filho Gustavo, do qual falas sempre com muito carinho, sem esquecer da Bruna e da tua Neyde, esposa dedicada. Foi a oportunidade para te mostrar um pouco de Lisboa e arredores e de nos conhecermos melhor. Em dois dias, entre uma visita ao Castelo de São Jorge, à Torre de Belém e à romântica Sintra, falámos de História, de Política, de Religião e um pouco de nós mesmos. Eu te ouvi embebecido com o manancial de conhecimentos que debitavas a cada momento. Uma autêntica enciclopédia ambulante. Pensei com os meus botões. Em visita ao Palácio da Pena, que se ergue na crista da Serra de Sintra, na Sala dos Brasões, apontaste para o da família dos Abreus, que é o sobrenome que herdaste dos teus avós paternos, e dele falaste com orgulho das tuas raízes portuguesas. Vislumbrei, nesse momento mágico, alguma emoção nos teus olhos. Houve vários momentos marcantes, tantos que tornariam esta minha carta demasiado longa… Mas o mais significativo para mim foi o de alargares o meu horizonte político, na altura ainda muito confinado aos estereótipos e dogmas da análise do Materialismo Marxista. Embora já duvidasse da “bondade” de algumas propostas da Esquerda, foi contigo que percebi quanto errada é a ideologia marxista-leninista, que havia abraçado na juventude. Disseste-me nomeadamente que o Comunismo é uma canoa furada… ou seja, um sonho irrealizável, uma ilusão criada para dar uma falsa esperança ao povo sofrido, feita no interesse da Nova Ordem Mundial. Mais, que Karl Marx nunca pôs em causa o Capital, apenas o queria sob a tutela de um Estado Comunista, que a História veio a demonstrar que foi e é tão ou mais explorador que o Capitalismo. A leitura do teu livro “O Poder Secreto”, uma obra de grande estofo enciclopédico, no qual me honras ao incluir o meu nome entre aqueles que de algum modo colaboraram contigo, compreendi com toda a clareza o engano que representa o Comunismo. Foste tu que me abriste os olhos. Grato por isso.
Em Maio de 2009, vieste a São Miguel visitar-me. Fui ao Aeroporto buscar-te e eis a grande e generosa surpresa: trouxeste uma mala cheia de exemplares de um pequeno livro que editaste, com a colaboração prestimosa do teu amigo César Caldas, e que reproduz uma minha crónica, autobiográfica, sob o título “O meu boné inglês”. Na mão e antes que te abraçasse, entregaste-me um exemplar. Olhei-o e logo identifiquei do que se tratava… Tu sorridente e eu emocionado abraçámo-nos. No caminho para o hotel, ainda emocionado, te disse que mais uma vez o Brasil, tua Pátria e minha de adoção, na tua pessoa, gratificava-me com a sua solicitude, solicitude tamanha que me deu inclusive uma mãe… Estranhei que uns tempos antes me pedisses o reenvio da crónica e uma foto minha, mas nunca me passou pela cabeça para que fim. Confiei simplesmente. Em boa hora o fiz. Todavia criaste-me um problema: que fazer com 100 exemplares? Na ocasião frequentava a Universidade Sénior de Ponta Delgada. Lembraste-me que deveria começar por divulgá-lo entre os colegas. Assim foi. Tinha por aqueles dias a apresentação de um trabalho de História sobre a migração açoriana para o Brasil colonial. Convidei-te para assistir. No final, fiz a distribuição do livro, depois de uma pequena introdução, informando que o mesmo se devia à tua bondade. Pediste a palavra e em rasgados elogios promoveste-me a escritor. Fiquei até um pouco desajeitado diante da turma… Mas face à tua insistência, dei o facto por adquirido. Aliás, no prefácio, redigido magistralmente por ti, já o fazes. Foi também a oportunidade para dares uma aula de Economia, tua especialidade, na vertente da Moeda. Tiveste a oportunidade de esclarecer que a Crise Financeira, que então já se vivia, era fundamentalmente um problema de escassez de oferta de dinheiro, feita deliberadamente com o propósito político de criar a dependência externa de financiamento. Os países ao se endividarem, sujeitam-se a perder a sua soberania. Como tens razão! Passados dois anos, Portugal é obrigado a aceitar um acordo de resgate financeiro de 78 mil milhões de Euros, patrocinado pela chamada Troika (FMI, BCE e União Europeia). No bojo dessa “ajuda envenenada”, além da exigência da redução drástica das despesas sociais, está prevista a privatização de várias empresas públicas, entre elas a TAP, tua bem conhecida. Na oportunidade tiveste ocasião de declarar que podemos provavelmente voltar às trocas diretas, o que suscitou algum burburinho na assistência. A esta altura te posso dizer, que já estivemos mais longe disso acontecer… Por estes dias foi noticiado que numa vila grega, o povo resolver abandonar o Euro e efetuar a troca de mercadorias e serviços por uma moeda local.
Em Junho de 2010, preocupado com a minha saúde, brindaste-me com nova visita. Tinha passado pouco tempo sobre a intervenção cirúrgica que tive que fazer. Havia sido diagnosticado um princípio de câncer na próstata. Felizmente, além da Prostatectomia Radical, não houve mais consequências. Desta feita, aproveitando o facto de seres um Economista não-alinhado com a ideologia dos mercados financeiros, propus-te vários eventos. Começaste com uma palestra subordinada ao tema: “A Crise e a Moeda”, que foi realizada no anfiteatro do Centro Cultural de Santa Clara, Ponta Delgada, minha cidade natal. Infelizmente, não conseguimos encher a sala. A divulgação a cargo da Universidade Sénior de Ponta Delgada não foi eficaz. Contudo os que compareceram foram brindados com uma verdadeira aula de Economia e História. Durante a tua intervenção, apoiada por um Power Point bem organizado, a tua figura se agigantava à medida que expunhas o tema, fazendo-o de modo claro e convicto. Começaste por esclarecer que os Bancos Centrais Nacionais só o são no nome. O caso do FED é a esse respeito emblemático. Trata-se de um banco central privado e independente do Estado que congrega os interesses de 12 bancos regionais americanos, aprovado pelo Congresso na madrugada da véspera do Natal de 1913, aproveitando a ausência da maioria esmagadora dos Senadores que já se encontravam no gozo das férias natalícias. Desde essa data o Governo americano ficou refém do FED, hipotecando os impostos futuros como garantia da emissão de moeda, que o mesmo é dizer, submetendo para sempre os USA aos interesses privados do cartel bancário. A seguir, desmontaste, um após outro, os lugares comuns que se tem da moeda, demonstrando que o dinheiro que atualmente usamos não passa de “papel pintado”, sem valor intrínseco. Acrescentaste que o Acordo de Bretton Woods, feito logo após a II Grande Guerra, matou o último resquício de dinheiro com lastro em ouro e permitiu que o dólar assumisse o papel de moeda de referência para as trocas comerciais internacionais, com evidente vantagem para o cartel bancário privado. Voltaste a referir, como já tinhas feito no ano anterior, que o problema fundamental da Crise era o de ter gerado uma escassez de moeda. No caso de Portugal, a situação era mais grave pelo facto de não poder emitir moeda própria, pelo que a saída do Euro iria pôr-se mais cedo, ou mais tarde. Como tens razão, meu querido amigo! São cada vez mais aqueles que concluem que a adesão ao Euro foi um mau negócio para o país, havendo quem defenda o regresso ao Escudo. Deste entretanto uma entrevista à Rádio Atlântica onde tiveste oportunidade de referir que a Crise tinha também a ver com o Relativismo Moral que grassa no Ocidente, que ao repudiar o Cristianismo, em particular o Catolicismo, abriu a caixa de pandora. Esta tua reflexão causou ao jornalista uma certa surpresa, levando-o a questionar o que é que a Economia tinha que ver com a Religião. Esclareceste o jovem jornalista que quando não existe uma hierarquização dos valores morais, fundada na nossa matriz cultural Judaico-cristã, e estes são utilizados ou ignorados conforme os interesses a cada momento, tudo é permitido e até legitimado. Daí que quando se especula em Wall Street não se pensa no mal que se pode fazer a terceiros, mas apenas no lucro pessoal e de grupo. Acrescentaste, como exemplo, que nas vésperas do Crash de 1929, os especialistas negavam qualquer hipótese de crise, tal como as agências de rating o fizeram em relação à atual Crise Financeira. Mantiveram a máxima classificação do Banco Lehman Brothers até à véspera da sua falência, em Setembro de 2008, facto que provocou a falência geral dos mercados financeiros. Ainda tiveste tempo de dar uma entrevista ao semanário Terra Nostra de São Miguel. A jornalista muito se esforçou para compreender a matéria que procuravas esclarecer. O texto publicado reflete o pouco conhecimento dela sobre o mecanismo dos mercados financeiros, de como atuam, nomeadamente de como fazem dinheiro do nada... Mas deu para transmitir as ideias fundamentais do teu pensamento acerca da Crise Financeira. Em passeio à Freguesia das Furnas, um dos lugares mais emblemáticos dos Açores, onde se observa uma atividade vulcânica residual através de fumarolas de caldeiras de água fervente com forte odor a enxofre, facto que te deixou maravilhado, tivemos um encontro inusitado com o Presidente de Portugal, que se encontrava em férias particulares a São Miguel. Embora não tenha simpatias pelo Dr. Cavaco Silva, dirigi-me a ele e apresentei-te Gentilmente cumprimentou-te e perguntou como estava o Presidente Lula da Silva. Tu respondeste diplomaticamente que o “Lula está bom de saúde, mas não o recomendo…” Cavaco Silva acusou a ironia com um ligeiro sorriso e sem comentários. Foi também a oportunidade de me pores em contacto telefónico com a tua esposa, Dª. Neyde, de quem sempre falavas com muito carinho e admiração. Passaste-me o telemóvel e do outro lado, uma voz suave fez-me lembrar a minha querida mãe adotiva, o que me emocionou. Nas vésperas de regressares, pediste-me para te levar a uma loja de eletrodomésticos. Fiquei surpreendido… Disse-te que se pretendias comprar algum equipamento para levar para o Brasil, ficava-te mais barato fazê-lo em Lisboa. Delicadamente, esclareceste-me que apenas querias ver um aparelho para comprá-lo mais tarde no Rio. Lá fomos a uma grande superfície. Na secção de televisores tipo plasma, depois de conversar com o lojista sobre as características técnicas de um aparelho, perguntaste-me se gostaria de ver a Copa do Mundo num ecrã de 37”. “Não era nada mau, mas neste momento não tenho condições de o comprar”, disse-te um pouco desconfiado… “Não seja por isso. Ofereço-te com todo o gosto”, respondeste-me com largo sorriso. “Não posso aceitar. Basta-me a tua amizade”, reagi. “Se não aceitas, também não és merecedor da minha amizade”. Encostaste-me à parede e não tive outro remédio se não aceitar mais uma prova da tua generosidade e amizade. No dia seguinte assistimos com a minha família à abertura da Copa da África do Sul.
Dois dias depois, partiste para Lisboa. No Aeroporto despedimo-nos com a esperança de nos voltarmos a ver em breve. Em breve, porque querias dar a conhecer as belezas dos Açores à tua Neyde, inclusive planeavas comprar um pequeno apartamento para passar cá as vossas férias.
Mal sabíamos que aquele seria o nosso último adeus.
Até sempre querido amigo Armindo Augusto de Abreu!
Artur Rosa Teixeira  
Artur Teixeira, José Melo e Armindo Abreu, em 2010

4 comentários:

  1. Senhores por favor! Onde consigo a obra o poder secreto! do Sr. Armindo?
    quero ler!!
    eu já rodei o Rio nos mais obscuros sebos e nada!

    se alguem tiver ou souber de alguem que tenha para venda por favor me comuniquem! 21 9882-4721!

    um forte abraço a todos!

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  2. Vai com Deus Armindo! Que as fantasmagorias deste mundo não lhe atormente mais em seu caminho.

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  3. O livro é EXCELÇENTE. e por ser tão espetacular é que não mais se encontra em lugar nenhum a obra.
    Tornou-se uma raridade, que deve ser detestada pela elite dominante do planeta.
    Este é o fato que não conseguimos compra-lo.
    Só conseguindo apenas baixar alguns capítulos via internet.
    Seria muito interessante que o mesmo fosse reproduzido novamente.
    Quando fizerem isso serei uns dos primeiros a comprar.

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