quinta-feira, 10 de setembro de 2009
SOBRE O ÚLTIMO DISCURSO DE KENNEDY (2) ...
Guilherme Augusto Rodrigues disse...
Prezado Armindo,
Já que falamos de Presidentes, poderia expor em relação ao Fernando Collor, as verdades sobre sua ascensão ao poder, bem como seu governo-pau-mandado e os motivos reais de ter sido retirado?
Obrigado!! Abraço!
Guilherme
26 de Agosto de 2009 11:48
Armindo Abreu disse...
Respondendo ao GUILHERME AUGUSTO:
Collor e seus mentores souberam aproveitar muito bem a frustração e a perplexidade populares ante a inesperada morte de Tancredo Neves, velho e alquebrado, caído na véspera de assumir o cargo e dando o governo, de mão beijada, a Sarney, que vinha de bons serviços prestados aos governos militares, já desgastados pelo longo tempo no Poder. E estes, apesar de haverem construído uma espetacular infra-estrutura de telecomunicações, haviam perdido, por descuido imperdoável, a batalha da comunicação, logo ocupada por adversários que passaram a demandar ‘eleições diretas’.
O povo, exaurido, seguiu a onda, pediu diretas mas só “ganhou” a presidência no Colégio Eleitoral... Ganhou, mas, como visto, não levou...
Collor, homem Jovem e vigoroso, bem orientado pelos “conselheiros” do sistema de poder, “fez a sua hora”, no melancólico final do Governo Sarney.
Aliou-se a um partido novo e de encomenda, sem passado criticável, e arrebatou o eleitorado com um discurso incisivo, supostamente patriótico (o ponto forte da época militar) decidido, que prometia combater o estado inchado (um paquiderme pesado e lerdo, como era caracterizado à época, justamente por ter sido o veículo usado pelos militares para conduzir o “Milagre Brasileiro”); as empresas do estado, muitas criadas no período pós-64, então transmutadas pela propaganda da oposição em símbolos da ineficiência, de altos salários e de cabides de emprego; os corruptos e os “marajás “ do serviço público, exatamente o discurso que as pesquisas de opinião, realizadas secretamente na época, mostravam que o eleitorado queria ouvir dos candidatos...
O problema é que, como todos os demais, em todas as épocas, Collor teria que fazer o seu juramento de fidelidade às forças que o apoiaram e honrar a palavra empenhada.
Com o tremendo choque provocado pelo seu contundente discurso de posse, em que anunciou medidas dramáticas, entre elas o fechamento de empresas estatais e outras jóias do aparato da administração federal, como a Interbrás, autarquias como o IBC, O IAA, a SUDENE, a SUDAM, etc., simultaneamente a um monumental choque na economia. Promovendo o congelamento dos saldos em conta corrente e a taxação extraordinária de ativos financeiros, ELLE deu um choque de intervencionismo maciço no Brasil, fazendo com que, pela primeira vez numa democracia capitalista liberal, ninguém possuísse mais do que cinquenta mil unidades monetárias no bolso ou na conta corrente... Nenhuma organização socialista ou comunista, dentro ou fora da “cortina de ferro”, havia conseguido, antes, tamanha proeza de dirigismo econômico; nenhum governante da história jamais assumira pregando uma abertura à economia de mercado e logo de cara, dera um golpe intervencionista tão forte e certeiro contra os recursos privados das famílias que, por tanto tempo, haviam repudiado o estatismo socialista....
Despreparado, inculto, agressivo, quase desvairado, Collor renegou seus compromissos de sangue e passou a agir, depois disso, como se fosse o dono absoluto do país. Afinal, quem tudo pode, sempre pode um pouco mais...
Fora de controle, logo passou a agir como se não devesse satisfações a quem quer que fosse e começou, com sua tropa de choque particular, a tentar construir um esquema de poder pessoal paralelo.
O sistema de poder convencional, implacável, reagiu de pronto.
Através da ação onipresente da mídia, o golpe de estado foi preparado com apuro e competência, dando-se ao povo a nítida impressão de que Collor cairia pela vontade absoluta dos “camisas-pretas”, que saíram às ruas em protesto contra o presidente.
Começou, assim, o processo de impeachment e o Congresso, dócil, obediente ao “comando das ruas” (eufemismo para ‘ordens superiores’) fez o resto do serviço “democrático”...
Mais um “golpe à brasileira”, leve, incruento, indolor. Afinal, aqui ainda não se mata os presidentes desavindos...
Armindo Abreu
Prezado Armindo,
Já que falamos de Presidentes, poderia expor em relação ao Fernando Collor, as verdades sobre sua ascensão ao poder, bem como seu governo-pau-mandado e os motivos reais de ter sido retirado?
Obrigado!! Abraço!
Guilherme
26 de Agosto de 2009 11:48
Armindo Abreu disse...
Respondendo ao GUILHERME AUGUSTO:
Collor e seus mentores souberam aproveitar muito bem a frustração e a perplexidade populares ante a inesperada morte de Tancredo Neves, velho e alquebrado, caído na véspera de assumir o cargo e dando o governo, de mão beijada, a Sarney, que vinha de bons serviços prestados aos governos militares, já desgastados pelo longo tempo no Poder. E estes, apesar de haverem construído uma espetacular infra-estrutura de telecomunicações, haviam perdido, por descuido imperdoável, a batalha da comunicação, logo ocupada por adversários que passaram a demandar ‘eleições diretas’.
O povo, exaurido, seguiu a onda, pediu diretas mas só “ganhou” a presidência no Colégio Eleitoral... Ganhou, mas, como visto, não levou...
Collor, homem Jovem e vigoroso, bem orientado pelos “conselheiros” do sistema de poder, “fez a sua hora”, no melancólico final do Governo Sarney.
Aliou-se a um partido novo e de encomenda, sem passado criticável, e arrebatou o eleitorado com um discurso incisivo, supostamente patriótico (o ponto forte da época militar) decidido, que prometia combater o estado inchado (um paquiderme pesado e lerdo, como era caracterizado à época, justamente por ter sido o veículo usado pelos militares para conduzir o “Milagre Brasileiro”); as empresas do estado, muitas criadas no período pós-64, então transmutadas pela propaganda da oposição em símbolos da ineficiência, de altos salários e de cabides de emprego; os corruptos e os “marajás “ do serviço público, exatamente o discurso que as pesquisas de opinião, realizadas secretamente na época, mostravam que o eleitorado queria ouvir dos candidatos...
O problema é que, como todos os demais, em todas as épocas, Collor teria que fazer o seu juramento de fidelidade às forças que o apoiaram e honrar a palavra empenhada.
Com o tremendo choque provocado pelo seu contundente discurso de posse, em que anunciou medidas dramáticas, entre elas o fechamento de empresas estatais e outras jóias do aparato da administração federal, como a Interbrás, autarquias como o IBC, O IAA, a SUDENE, a SUDAM, etc., simultaneamente a um monumental choque na economia. Promovendo o congelamento dos saldos em conta corrente e a taxação extraordinária de ativos financeiros, ELLE deu um choque de intervencionismo maciço no Brasil, fazendo com que, pela primeira vez numa democracia capitalista liberal, ninguém possuísse mais do que cinquenta mil unidades monetárias no bolso ou na conta corrente... Nenhuma organização socialista ou comunista, dentro ou fora da “cortina de ferro”, havia conseguido, antes, tamanha proeza de dirigismo econômico; nenhum governante da história jamais assumira pregando uma abertura à economia de mercado e logo de cara, dera um golpe intervencionista tão forte e certeiro contra os recursos privados das famílias que, por tanto tempo, haviam repudiado o estatismo socialista....
Despreparado, inculto, agressivo, quase desvairado, Collor renegou seus compromissos de sangue e passou a agir, depois disso, como se fosse o dono absoluto do país. Afinal, quem tudo pode, sempre pode um pouco mais...
Fora de controle, logo passou a agir como se não devesse satisfações a quem quer que fosse e começou, com sua tropa de choque particular, a tentar construir um esquema de poder pessoal paralelo.
O sistema de poder convencional, implacável, reagiu de pronto.
Através da ação onipresente da mídia, o golpe de estado foi preparado com apuro e competência, dando-se ao povo a nítida impressão de que Collor cairia pela vontade absoluta dos “camisas-pretas”, que saíram às ruas em protesto contra o presidente.
Começou, assim, o processo de impeachment e o Congresso, dócil, obediente ao “comando das ruas” (eufemismo para ‘ordens superiores’) fez o resto do serviço “democrático”...
Mais um “golpe à brasileira”, leve, incruento, indolor. Afinal, aqui ainda não se mata os presidentes desavindos...
Armindo Abreu
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Artur Teixeira disse:
ResponderExcluirArmindo Abreu,
Creio que a têmpera dos oficiais superiores brasileiros não mudou e que só aparentemente estão remetidos aos quartéis… Contudo temo que a obediência “cega” à Lei, indistintamente, sobretudo quando esta não serve o país e logo os interesses gerais da Nação, pode inibir uma acção legitima contra quem usurpa o Poder ainda que lá tenha chegado pelo voto popular. Hoje, mais do que nunca, a retórica da Democracia serve para a instalação de interesses escusos que nada têm a ver com as propostas anunciadas. Decerto vai chegar o momento que será necessário intervir. Oxalá que não seja tarde.
Por outro lado, seria imprudente “revelar” a eventual disposição dos oficiais superiores brasileiros face ao rumo do governo de Lula, que para além da corrupção, norteia-se na essência segundo interesses internacionalistas, sobretudo tratando-se de um profundo conhecedor da hierarquia militar, como de facto és. A questão colocada pode não ser inocente e trazer água no bico…
Abraços.
Artur